A Meia Maratona de Buenos Aires é uma ótima opção para brasileiros que buscam uma prova de corrida com experiência internacional. A apenas 2h de Floripa com chegada no Aeroporto Aeroparque e em 15 min é possível chegar num hotel próximo da largada da prova, com mesmo fuso e cultura bem parecida com a nossa. Isso tudo faz da Meia Maratona na Argentina uma bela opção. 
Preparação
Comecei minha preparação específica com 20 semanas para a data da prova. Eu estava muito animada para a minha primeira meia Maratona! Apesar de correr desde os meus 15 anos- sim, comecei correndo por causa das Olimpiadas da minha escola- o Colégio Farroupilha de Porto Alegre, e correr até hoje tenho 44 anos, nunca tinha feito especificamente uma prova de Meia Maratona. O meu Coach Roberto conta: “fui subindo o volume de treino da Juliana progressivamente a cada semana. Só que ela sentiu o volume e tivemos que dar uma aliviada. Como ela é triatleta, compensamos com bike e natação, o que fez com que ela não perdesse condicionamento.” Consegui completar em 1h53 e estou muito feliz.
Corri algumas provas de 10k durante a preparação, especialmente para pegar ritmo de prova – para mim isso é fundamental para “treinar a mente”. Além disso, queria testar qual gel eu iria usar. No início do ciclo, participei de uma prova de 10k e tive uma experiência negativa: terminei a prova com muita dor no estômago, com ânsia de vomito até (e nao foi de esforço exagerado pois o pace estava dentro do que eu estava treinando). Então continuei testando o que funcionaria para mim. Me adaptei super bem ao gel de beterraba da Dobro, que é mais natural e não pesa tanto no meu estômago- até porque eu ia consumir de 3 a 4 sachês deles ao longo da prova eu precisava ter a segurança que estava digerindo bem e que não seria isso que faria eu ter uma má experiência no dia da Meia Maratona. Foi um alívio emocional achar um gel que não me fizesse mal.
A escolha do tênis também teve sua parcela de importância na preparação. Como senti o volume e tive um pouco de desconforto os pés, meu treinador e o ortopedista indicaram a troca do calçado como uma primeira opção para tratamento e alivio – apesar de não ter sido uma lesão, eu só precisava um pouco mais de amortecimento externo e nao tanto nas minhas próprias articulações ;). Minha escolha foi o Nimbus gel 25 da Asics. Comprei como sempre, um numero maior que o que uso para nao perder as unhas, hehehe. 
Buenos Aires: O Cenário da Corrida
Cheguei em Buenos Aires 2 dias antes da corrida. Tem um voo no meio da tarde a partir de Florianópolis que chega às 19h. Foi perfeito pois deu tempo de sair do aeroporto, fazer check-in jantar e estar às 22h na cama.
No sábado, a primeira coisa que fiz foi buscar o kit. A retirada foi no Parque Sarmiento. Era longe do meu hotel e não tinha nada por perto. Fui e voltei de Cabify Mas o Uber funciona também. Os táxis chegam lá, mas não vi muitos por lá. Vi muitos ônibus e vans de turismo. Fila de 1k – isso mesmo, inacreditável. Isso porque os kits começaram a ser entregues 2 dias antes e pelo que me falaram, as filas estavam iguais- o dia todo assim. (essa é a unica parte, na minha opinião que precisam melhorar mesmo). Para retirada só precisei apresentar a carteira de identidade. Para retirar para outros, era necessário copia do documento do dono do kit e do seu. – Acho que esse é a melhor alternativa se você nao quer ir até lá e não faz questão de ver a feirinha. Para nós, brasileiros, as agencias que fazem pacote para corrida fazem isso e entregam o kit no hotel. No kit, veio uma camiseta com numero e os alfinetes e 1 sache de um gel de uma marca de lá. A feirinha é ok, legal para conhecer a tendencia por lá…estavam promovendo um modelo de tenis com placa de carbono da Adidas, marca patrocinadora da prova. Mas feirinha bem simples se comparadada a do Ironman Brasil ;)) Quando eu estava saindo para feirinha, fui revisar minhas coisas para ver se estava tudo ali e me dei conta que tinha esquecido os saches de gel! Era isso mesmo: esqueci minha suplementação em casa!! Foi um momento de tensão, mas após conversar com o Coach, ele me sugeriu usar o Gu, que é uma marca que já está ha muitos anos no mercado e aprovada por muita gente. 
Voltei de Cabify para o hotel. Deu em torno de 3600 pesos (o cambio para o real, em dinheiro ou Effectivo, estava 130 pesos/real) até o cemitério da Recoleta (fiquei no Loi Suites Recoleta). Me adiantei e pedi um “early breakfast” para domingo assim que cheguei de volta no hotel. Não era algo que pareciam estar acostumados, houve uma certa resistência da moça da recepção, mas à noite levaram exatamente o que pedi. Tinha uma cafeteira à base de cápsulas no meu quarto, então deu tudo certo com essa parte.
O Grande Dia:
Saímos às 6h do hotel. Ficamos no mesmo hotel que um amigo de Floripa e combinamos de ir junto. Já com as roupas que iriamos correr apenas – nao tinhamos onde deixar nada lá na largada. Eu fui de bermuda, camisa segunda pele manga longa e um corta vento. Coloquei um manguito e mais uma camiseta manga curta por cima, mas foi exagero. Fui de viseira pois prefiro para segurar o cabelo e o suor que escorre- para o sol nem seria necessário pois tem muitos prédios ao longo do percurso, entao fica-se a maior parte do tempo na sombra. E protetor solar!
Meu filho de 10 anos foi comigo para Buenos Aires. Então no dia da corrida tivemos a grande oportunidade de ter esses amigos queridos por perto o que tornou a experiência mais fantástica ainda. Ele ficou com a esposa do meu amigo lá no hotel. Na hora da saídda, descemos até o andar deles e meu filho ficou com a esposa do meu amigo. Dormiram um pouco mais, tomaram café descansados até o nosso retorno, às 10h.
Para nós, a chegada até a largada já foi uma aventura: não pensamos nisso e entao tivemos que lidar com o que se apresentava: as ruas estavam todas fechadas o que fez com que tivéssemos que ir a pé a maior parte da distância. O uber andou 1km apenas com a gente..depois pediu para descermos pois nao ia conseguir chegar. Ficamos um pouco apreensivos, mas estavamos com tempo sobrando, pois vimos que faltavam 3km e ainda eram 6h15 – a largada é as 7h.. Fomos trotando 1km e depois começamos a caminhar pois pensamos que iríamos ficar muito suados e chegaríamos muito antes da largada – o que faria com que tivessemos que esperar com frio. Estava uns 7 graus. Mas as vans das agencias – acho que isso pode ser contratado a parte também, chegam bem no ponto da largada. Deve ser uma volta por trás das avenidas principais, mas se para você isso é importante, vale a pena pesquisar. Penso que o único inconveniente é a hora de saída do hotel, deve ser cedo. O que para mim faz toda a diferença: acordar antes das 5h30 me deixa muito cansada. Então, sair às 6h mesmo tendo que caminhar/correr foi perfeito! O local da largada é ENORME: é um encontro de duas ruas em um parque gigantesco. Lindo o lugar, mas amanhece só as 7h e tem muitas árvores por lá entao é bem escuro onde não tem iluminação. Tem bastante banheiro. Tem várias tendas VIP por lá. Tanto de assessorias, quanto de agências de turismo. Se é importante para você ter acesso a banheiros exclusivos, lugar para deixar a mochila, e comer/beber algo antes da largada, contrate! Dá para comprar junto com a inscrição ou através de uma agência. *Isso precisa ser contratado antes.
As 6h45 entramos na rua da largada e caminhamos até acharmos a bandeira com o pace que iriamos correr – demos a sorte de sermos da mesma largada F. (isso é cada atleta que escolhe na hora da inscricao. Coloquei o pace a 5’30. Mas para a próxima vez, penso em colocar para 5’00 pois conversei com um outro brasileiro que correu nesse ritmo e falou que conseguiu largar super bem. O que nao foi o nosso caso…caminhamos algumas partes pelo volume de gente na nossa frente).
Ás 7h em ponto largou! A largada é mágica. Muita luz, música e sol nascendo no meio das árvores. é uma experiencia que vale muito!!
Cruzamos o portal de largada 10 min depois da buzina de largada – todo esse tempo esperando as pessoas na nossa frente passarem. Eu nunca tinha corrido uma prova com tanta gente, então achei aquilo surreal, kkkk. Em seguida, deu mais uma desacelerada e tivemos que caminhar mais uns 2 min – de tanta gente na frente. Mas depois fluiu.
Todo o percurso é fantástico, ele passa pelos principais pontos turísticos e isso para mim foi o ponto alto da prova. Adorei mesmo. As condições climáticas estavam ótimas. O frio de 7 graus é perfeito para correr de manga longa e bermuda. A hidratação é a cada 2,5 km, com água, gatorade e banana. Tem muitos staffs e ninguém fica sem água. Corremos super bem, com pequenas subidas e descidas. O percurso é fantástico. 
Cruzamos com os primeiros colocados perto do km 9, onde é retorno. Larguei pensando em fazer 4x 5k, mas estava me sentindo bem, entao caminhei 10s a cada 30 min (ou a cada 6k), mais ou menos, cada vez que fui tomar o gel. Tomei 3: um com 30 min, outro com 1h e outro com 1h30. Para mim, foi na medida certa. Complementei com agua e gatorade na maioria dos postos.
Momentos Memoráveis:
Ver toda aquela multidão correndo e passar pelos pontos turísticos foi realmente muito empolgante. Correr com um amigo fez toda a diferença. Fomos tentando manter o pace dentro do que tinhamos treinado pelo menos até o km 15.
Depois disso comecei a sentir um pouco de cansaço e sabia que a partir dali seria um terreno desconhecido – um novo mundo a explorar. Eu nunca tinha passado de 15k na vida…entao nao sabia o que estava por vir. Mas uma coisa eu tinha certeza – tinha que confiar no meu treinador. E ele falou que eu conseguiria. Então, com força e fé, segui. No km 17, já de volta na avenida que dava acesso ao parque e me sentindo super bem – com um pouco de cansaço nas pernas mas com coraçao e vontade a mil, resolvi apertar o ritmo. E decidi fazer uma estratégia que funciona muito para mim – tanto nas corridas, quanto na vida: quebrar o “problema” em pequenas batalhas. Combinei – com o Danton, o amigo e comigo mesmo, hehe- de correr até fechar o km 17. daí, rever a meta: se daria para manter o ritmo que eu tinha apertado já, ou “tirar o pé””. Fiz esse km para 5 min. Top! Era como uma mini corrida dentro de uma outra. Era como buscar conforto dentro do desconforto. Era uma busca por superacao. E deu certo! Apertei um pouco mais e com a mesma estratégia: correr até fechar o km 18 e entao conversar comigo lá. Era como enxergar uma linha chegada no final dos proximos 1000m e me ver lá. E deu certo de novo. Foram 4min51s nesse km. Atingi e meta! Fiquei muito feliz! É uma sensacao de superacao a cada km percorrido que isso que parece que dá mais força para continuar. E daí a gente vai crescendo e ao invés de ficar cansada, vai ficando mais forte. Fiz os proximos 2km a 4’48s cada. Eu estava gigante!! A atmosfera nessa hora é a melhor possível: toda aquela adrenalina de estar proximo da chegada, estar há 1h50 min correndo no meio de toda aquela energia boa, num lugar maravilhoso, com clima perfeito fazem desse momento algo que é quase indescritível. Pensei nos treinos com as minhas amigas, nos meus filhos que nao puderam vir, nos joelhos do meu pai, no cuidado da minha mãe com tudo, na minha familia que me ajudou a fazer isso tudo possível …e continuei correndo. Esses últimos 1000m nem me lembro direito: mas foi dentro do parque, com sol, com muita torcida, show de samba, tango e tudo mais! Cruzei a linha de chegada com 2:00 no relógio oficial. Depois descontam o tempo que levamos para para passar pela largada e vem o tempo liquido. Caminhamos até uma rua mais movimentada e chamamos um Cabify. Como corri com celular e dinheiro nos bolsos, deu tudo certo. Chegamos de volta ao hotel às 10h.
É uma experiência que vale a pena ser vivida! O que aprendi? Que tenho que acreditar no processo: que nada se constrói de uma hora para outra. Que é necessário planejamento: estabelecer metas, traçar estratégias, testar hipóteses e ter a coragem de encarar o desconhecido. Aprendi que responder rápido às mudanças ajuda muito. Mas fundamental é curtir cada momento. Já quero correr outras meias em outros lugares e também voltar para essa com mais amigos e o resto da família. 
Super indico a você escolher uma prova internacional e se puder, vá com amigos e familiares. Mas se não for possível e fores sozinho, vale a pena igual!
